Novas exigências europeias de compliance impactam exportações e mais
Caso das apostas esportivas; 'Movimento Esmeralda' e Riscos climáticos e financeiros no Agro.
Você encontrará nesta edição:
ESG: nova regulamentação europeia impacta exportações brasileiras
‘Movimento Esmeralda’: denúncias de assédio no trabalho aumentam, mas reporte ainda é desafio
Fraude ocupacional: a relação entre o caso das apostas no futebol e o ambiente corporativo
Agro, principal exportador brasileiro, sofre com ausência de compliance e tem riscos climáticos e financeiros
ESG: nova regulamentação europeia impacta exportações brasileiras
Nos últimos anos, testemunhamos uma desaceleração significativa da economia global. As incertezas geopolíticas, as mudanças climáticas e os desafios socioambientais colocam em xeque o modelo tradicional de negócios. Nesse contexto, surge uma abordagem que visa não apenas o sucesso financeiro, mas também a sustentabilidade de longo prazo: as estratégias ESG (ambiental, social e de governança).
Os CEOs das principais empresas ao redor do mundo têm reconhecido cada vez mais que a adoção de práticas sustentáveis e responsáveis é crucial para enfrentar os desafios atuais e garantir o crescimento futuro. De acordo com um estudo recente da EY, 78% dos CEOs entrevistados acreditam que a adoção de estratégias ESG é uma resposta efetiva à desaceleração da economia. Essa percepção é compartilhada por líderes em diversos setores, incluindo Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, que destaca a importância da industrialização, do meio ambiente e da inteligência artificial para o futuro do Brasil.
Um dos principais impulsionadores para a adoção de estratégias ESG é a crescente preocupação com o meio ambiente. A crise climática é uma realidade inegável, e suas consequências podem impactar negativamente a economia global. Nesse sentido, a redução do desmatamento tem sido uma prioridade para governos e organizações em todo o mundo. No mês passado, o Conselho Europeu adotou novas regras para combater o desmatamento em escala global.
Entre elas, estão:
Novas regras obrigatórias de due diligence para exportações;
Criação de um sistema de avaliação comparativa que atribui um nível de risco associado à desflorestação e degradação florestal;
disposições em matéria de sanções que os Estados-Membros deverão assegurar que sejam efetivas, proporcionadas e dissuasivas.
Considerando-se que 1,5% do comércio total da União Europeia é proveniente do Brasil, as novas leis podem se apresentar como impeditivo para exportações brasileiras. De acordo com dados da FGV Agro, dos US$ 36 bilhões em exportações brasileiras à Europa em 2021, US$ 17 bilhões foram com a venda de produtos que agora passam a exigir a “comprovação verde”. Assim, a nova regulamentação pode impactar negativamente as empresas que não se adaptarem, restringindo seu acesso ao mercado europeu. No entanto, aquelas que cumprirem as exigências terão uma vantagem competitiva em relação a seus concorrentes de outros países, possibilitando um acesso mais favorável a estes mercados.
É importante destacar que a adoção de estratégias ESG não é apenas uma questão de responsabilidade corporativa, mas também de vantagem competitiva. Empresas que estão na vanguarda das práticas sustentáveis têm se destacado no mercado, atraindo investidores, clientes e talentos qualificados. Os consumidores estão cada vez mais conscientes e exigentes, dando preferência a marcas que demonstrem compromisso com questões ambientais e sociais. Além disso, a priorização de empresas com boas práticas ESG por fundos de investimento e acionistas pode resultar também em um maior acesso a capital e melhores oportunidades de crescimento.
Em conclusão, a adoção de estratégias ESG é uma resposta efetiva à desaceleração da economia. Essas práticas não apenas abordam os desafios socioambientais, mas também promovem a criação de valor a longo prazo, a resiliência dos negócios e a vantagem competitiva. Diante da crise climática e das demandas por maior responsabilidade corporativa, as empresas que adotam uma abordagem ESG estão preparando-se para o futuro, ganhando a confiança e o apoio de investidores, clientes e talentos qualificados. A combinação de práticas ambientais, sociais e de governança, aliada ao uso da inteligência artificial, tem o potencial de impulsionar a economia global em direção a um futuro mais sustentável e próspero.
‘Movimento Esmeralda’: denúncias de assédio no trabalho aumentam, mas reporte ainda é desafio geral
Segundo dados da Aliant, o número total de denúncias de assédio cresceram +43% entre 2021 e 2022. Ao analisarmos por setor, Varejo/Atacado é o que possui maiores números de denúncias proporcionais: 246,92 por empresa-cliente. Ele é seguido pelo segmento da Indústria (73,77) - que sofreu queda no total em relação ao último ano -, Serviços (61,18), Incorporação e Construção (44,94).
E, embora possa ser considerando um avanço na divulgação de informações sobre a prática violenta e tomada de decisão das vítimas em reportar o acontecido, demais dados apontam que existe um grande caminho a ser percorrido: segundo pesquisa “Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, realizada em 2023 pelo DataFolha e pelo Fórum de Brasileiro de Segurança Pública, 46,7% das mulheres brasileiras de +16 anos sofreram alguma forma de assédio sexual no último ano. Isso, em termos de projeção, equivale a 30 milhões de mulheres assediadas em 2022.
Além disso, a pesquisa também constatou que o local de trabalho:
Diante disso, e do dado de que 45% das entrevistadas não tomaram atitudes após a violência mais grave sofrida nos últimos 12 meses (não necessariamente assédio), 12,8% das mulheres afirmaram não ter procurado a polícia por medo de represálias. A análise dos motivos pode envolver diferentes elementos, incluindo a ausência de suporte (local ou institucional).
Nessa esteira, movimentos como o “Movimento Esmeralda” podem impactar positivamente na tomada de decisão em situações de vulnerabilidade. Nessa segunda (22), funcionárias do Grupo Globo, incluindo Ana Maria Braga e Patrícia Poeta, se manifestaram coletivamente em apoio à engenheira Esmeralda Silva (nome fictício), que trabalhou na emissora entre 2017-2018 e teria sido atacada por quatro homens, em ocasiões distintas, durante o expediente.
A Organização Pan-Americana de Saúde elenca que as medidas que combinam o empoderamento econômico da mulher à formação em igualdade de gênero e as que fomentam a comunicação e as relações interpessoais dentro da comunidade estão as medidas passíveis de serem tomadas para a prevenção primária à violência de gênero.
Fraude ocupacional: a relação entre o caso das apostas no futebol e o ambiente corporativo
O mundo esportivo brasileiro está sob forte pressão. A Operação Penalidade Máxima, comandada pelo Ministério Público de Goiás, segue em sua segunda fase. Seu objetivo é apurar indícios de manipulação de resultados em jogos do campeonato brasileiro de futebol e está diretamente associada a esquemas de apostas.
O que começou com denúncias de aliciamentos para tomadas propositais de cartões amarelos em jogos de campeonatos estaduais, culminou em investigações sobre partidas da Série A, suspeitas de relacionamento íntimo de jogadores e apostadores, ameaças à integridade física de participantes e indícios de um esquema complexo e abrangente envolvendo o principal esporte nacional.
Embora não tenha sido o primeiro escândalo de manipulação de resultados no futebol brasileiro, a Operação Penalidade Máxima ocorre em um momento em que a Governança entra em pauta nas agendas dos clubes de futebol, especialmente na esteira da criação de uma liga – que profissionalizaria o esporte e traria investimento e pressão internacional para adequação aos padrões éticos e regulatórios.
Sem dúvida, a conformidade em determinados setores possui diferentes níveis de complexidade – especialmente considerando a atividade e função de cada profissional. Profissionais que estão sujeitos a maiores níveis de pressão precisam ser educados, avaliados e fiscalizados de modo diferente dos que não estão.
Em 2022, o Report to the Nations trouxe dados em que:
85% dos fraudadores apresentaram pelo menos um sinalizador comportamental de fraude;
Proprietários/Executivos cometeram 23% das fraudes ocupacionais e causaram os maiores prejuízos; e
Os departamentos de contabilidade e vendas também foram associados a uma alta porcentagem de casos (12% e 11%, respectivamente) e causaram perdas médias de seis dígitos.
Com base em dados da Aliant, nos últimos 5 anos, foram registradas 32.035 denúncias cujo o tema principal envolvia fraude (interna e externa) e pagamento/recebimento ilícito (corrupção, suborno, propina, lavagem de dinheiro). E, entre os denunciados, Líderes e Gestores aparecem como categoria com maior porcentagem:
Agro, principal exportador brasileiro, sofre com ausência de compliance e tem riscos climáticos e financeiros
No início do mês foi divulgado o Relatório de Estabilidade Financeira do Banco Central, que passou a incluir a análise de riscos climáticos. Resultados da análise apontam uma projeção preocupante: até o ano de 2030, 15% das operações de crédito estarão expostas a altos riscos climáticos – o que engaja, novamente, o posicionamento do setor financeiro frente às questões ESG, lembrando da Resolução BCB nº 140, que passou a valer em 2022. Tanto na alocação de recursos como na gestão de carteira de crédito, a chamada de atenção recai sobre setores que dependem diretamente de recursos naturais para continuidade de seus negócios. Por fim, o risco de inadimplência foi indicado como o principal canal de transmissão de um risco climático para ameaça à estabilidade financeira.
Dados levantados pela Serasa Experian implicam que 3 a cada 10 produtores rurais estão inadimplentes. Depois de dois anos com duas das principais safras nacionais comprometidas pela seca (o milho, em 2021, e a soja, em 2022), a expectativa positiva sobre o valor bruto da produção de 2023 é colocada em incerteza. Espera-se um crescimento de 5% desse, como afirma o presidente do conselho diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), almejando que fatores climáticos, como La Niña, tenham menor influência. Ao mesmo tempo, as expectativas se intensificam sobre concessão de crédito e o lançamento do Plano Safra 2023/2024.
A gestão de riscos climáticos e práticas de governança no setor agro emergem como estratégias de estabilidade e confiabilidade do setor frente aos investidores. O cenário, entretanto, ainda se mostra incipiente: a escassez de publicações integrando agronegócio e governança corporativa foi ressaltada em pesquisa recente do IBGC e KPMG. A falta de informação é apontada como o maior obstáculo para implantação por 35% dos respondentes da pesquisa, seguida pelo receio de “criar burocracia” (33%) e de “aumentar custos” (32%). Não por acaso, menos da metade afirma possuir Códigos de ética ou conduta e apenas 26% possuem um Canal de Denúncias.
O lastro dessas condições pesa às finanças e à reputação do agro brasileiro. Uma análise dos 163.600 produtores que tentaram contratar crédito e/ou Seguro Agro em 2022, indicou que 1% apresenta infrações gravíssimas, como trabalho escravo e embargos que somam R$ 90 bilhões em prejuízos financeiros – e um prejuízo reputacional imensurável. Vale lembrar que também foram identificados que somente 17% dos respondentes de sua pesquisa realizam procedimentos de diligência na cadeia de fornecedores, incluindo parceiros e/ou terceiros, um dado bastante problemático.
Pode-se esperar que políticas de concessão de crédito funcionem cada vez mais como motores à mudança desse quadro, em função, especialmente, da estabilidade financeira. Estratégias de governança corporativa no setor também serão cada vez mais integradas ao avanço das pesquisas sobre mudanças climáticas e suas projeções – o agro do futuro precisa que mudanças estruturais aconteçam agora.